ClickFix: A Ameaça Silenciosa que Transforma Seu Clipboard em um Vetor de RCE

Hoje, vamos mergulhar em uma tática de ataque que, apesar de sua simplicidade e dependência de engenharia social, tem se mostrado incrivelmente eficaz em contornar defesas e obter execução remota de código (RCE): o ClickFix.

Popularizado por pesquisadores como John Hammond e documentado no projeto ClickGrab, o ClickFix é um lembrete contundente de que a “camada 8” (o usuário) continua sendo o ponto mais vulnerável em qualquer arquitetura de segurança.

O Que É o ClickFix e Como Ele Funciona?

Em sua essência, o ClickFix é uma técnica de engenharia social que explora a confiança e o desconhecimento do usuário sobre o funcionamento de atalhos de sistema e da área de transferência (clipboard).

O processo é dividido em etapas precisas:

1. Envenenamento do Clipboard (Client-Side):

  • Um atacante cria uma página web maliciosa.
  • Ao ser visitada, esta página executa um script JavaScript (geralmente navigator.clipboard.writeText()) que silenciosamente sobrescreve o conteúdo da área de transferência do usuário com um comando malicioso.

    Isso acontece sem qualquer interação explícita do usuário na maioria dos navegadores modernos em contextos de “user-initiated event” ou mesmo em alguns casos sem um evento direto se a política de segurança permitir (o que está se tornando mais restrito, mas ainda possível em cenários específicos).

2. Engenharia Social e Indução à Execução:

  • A página exibe instruções enganosas ao usuário, com mensagens como “verifique sua sessão”, “corrija um erro no sistema”, “atualize um driver” ou “confirme sua identidade”.
  • As instruções solicitam ao usuário que realize uma sequência de teclas:
    • Windows + R (no Windows) ou Alt + F2 (no GNOME/Linux): Este atalho abre a caixa de diálogo “Executar”, uma ferramenta poderosa que aceita e executa comandos diretamente no sistema operacional.
    • Ctrl + V (Colar): O usuário, inocentemente, cola o “código de verificação” na caixa “Executar”. No entanto, o que é colado é o comando malicioso que foi inserido no clipboard.
    • Enter: Ao pressionar Enter, o usuário AUTORIZA a execução do comando malicioso.

3. Execução do Payload:

  • O comando pode ser qualquer coisa que o atacante deseje: desde um comando simples como calc.exe (como usamos em nossos laboratórios para PoC inofensivas) até payloads complexos como scripts PowerShell , comandos curl | bash em sistemas Linux, ou até mesmo chamadas para LOLbins (Living Off the Land Binaries) para download e execução de binários.

Por Que o ClickFix é Tão Perigoso para Cibersegurança e Redes?

A simplicidade do ClickFix esconde sua letalidade, especialmente para equipes de segurança:

  1. Bypass de Defesas Perimetrais: O ataque não depende de exploits de vulnerabilidade de software no navegador ou no sistema. Ele engana o usuário a executar o comando, bypassando WAFs, IDS/IPS e muitas proteções de e-mail.
  2. Desafio de Detecção de Endpoint (EDR): O processo de execução é iniciado pelo próprio usuário através de um binário legítimo do sistema (como explorer.exe no Windows, que lança a caixa “Executar”). Isso pode dificultar a detecção baseada em padrões de processos ou anomalias, exigindo regras de EDR mais sofisticadas que analisem a linha de comando completa e o contexto.
  3. Multiplataforma: Como demonstramos em laboratório, a técnica funciona igualmente bem em Windows e Linux (e teoricamente em macOS com o atalho equivalente para um prompt de execução). A natureza agnóstica de plataforma da engenharia social é um grande desafio.
  4. Cadeia de Ataque Curta: A RCE é obtida com pouquíssima interação e em poucos segundos, deixando pouco tempo para o usuário ou para sistemas de segurança reagirem.

Como Proteger Seus Usuários e Sua Rede contra o ClickFix?

A defesa contra o ClickFix exige uma abordagem em camadas que combine educação, hardening de endpoints e monitoramento de rede:

  1. Conscientização do Usuário (A Primeira Linha de Defesa):
    • “A Regra do Bloco de Notas”: Ensine os usuários a SEMPRE colar conteúdos suspeitos em um editor de texto simples (como o Bloco de Notas) ANTES de executá-los ou colá-los em qualquer janela de comando. Isso revela o payload real.
    • Educação sobre Atalhos: Treine os usuários para desconfiar de qualquer solicitação de um site para usar atalhos de sistema como Win+R ou Alt+F2. Sites legítimos raramente exigem isso.
    • Princípio da Desconfiança: Reforce que se algo parece muito fácil ou muito urgente, é preciso desconfiar.
  2. Hardening de Endpoints (Segurança de Posição):
    • Princípio do Menor Privilégio: Garanta que os usuários operem com contas de privilégios mínimos. Isso limita significativamente o impacto de um payload mesmo que seja executado.
    • GPO/MDM (Windows): Em ambientes corporativos, considere desabilitar o acesso à caixa “Executar” (Win+R) para usuários padrão via GPOs (Group Policy Objects) ou soluções de MDM.
    • Controle de Aplicações (AppLocker, WDAC, AppArmor): Implemente políticas de controle de aplicações que restrinjam a execução de binários e scripts não autorizados. Isso pode bloquear a execução do payload mesmo que o usuário o cole.
    • Restrição de PowerShell/Scripting: Configure políticas para o PowerShell ou outros interpretadores de script para desabilitar a execução de scripts não assinados ou restringir a funcionalidade.
  3. Monitoramento e Detecção (Segurança de Detecção):
    • EDR/XDR Avançado: Invista em soluções EDR/XDR que possuam capacidades avançadas de detecção de anomalias de linha de comando e telemetria de processos. Regras personalizadas podem ser criadas para alertar sobre execuções de PowerShell, curl, wget ou bash com parâmetros suspeitos quando originadas de processos como explorer.exe ou de contextos inesperados.
    • Monitoramento de Rede: Embora o ataque inicial seja no endpoint, o payload frequentemente tentará se comunicar com um servidor C2 (Command and Control) via HTTP/HTTPS. Monitore o tráfego de rede para detectar essas conexões anômalas, especialmente para domínios recém-registrados ou IPs incomuns.
    • SIEM e Correlação: Correlacione logs de EDR e de rede para identificar a cadeia completa do ataque, desde a navegação web até a atividade pós-exploração.

Conclusão

O ClickFix é um lembrete vívido de que a superfície de ataque se estende muito além do código-fonte e dos dispositivos. Ela abrange a cognição humana e a maneira como interagimos com a tecnologia.

Para os profissionais de cibersegurança e redes, isso significa que nossas estratégias devem ser holísticas, combinando a tecnologia mais recente com a educação fundamental do usuário.

A prevenção é sempre a melhor defesa, mas a capacidade de detectar e responder rapidamente é igualmente crucial.

Você já encontrou o ClickFix em suas varreduras ou auditorias? Quais estratégias sua equipe utiliza para mitigar esse tipo de ataque? Compartilhe suas experiências e insights nos comentários abaixo!

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Juliana Mascarenhas

Data Scientist and Master in Computer Modeling by LNCC.
Computer Engineer